Um caso único no mundo inteiro
Oficial Piloto Aviador (Ref.) "Entre as alianças que ligam este país a outras nações da Europa, nenhuma é mais antiga na sua origem e tão precisa na obrigação que estabelece, nenhuma durou tanto e nenhuma foi cumprida tão fielmente, nenhuma está tão intimamente ligada a mais brilhantes triunfos da nossa História, como a que nos une a Portugal. Data de longos séculos, tem sobrevivido a inúmeras vicissitudes. Esta aliança nunca foi seriamente interrompida; mas tem sido renovada em repetidas confirmações. Tem sido mantida através de dificuldades que têm abalado outras alianças e tem sido confirmada nos campos de sangue e de glória..."(George Canning, Primeiro-Ministro Britânico, no Parlamento, 1826).AAliança Luso-Britânica é um caso único no mundo inteiro, não só por ser uma aliança de defesa mútua - logo de um compromisso político enorme, por nunca ter sido quebrada, apesar das vicissitudes havidas (mesmo durante o período Filipino, melhor se dirá que foi "suspensa", mas não quebrada) - e por ser a mais longeva que alguma vez existiu no universo. Nada existiu ou existe, que se lhe possa assemelhar, também.Por isso, bem andaram os Estados Português e Britânico, ao assinalar este aniversário de tão peculiar aliança. Porém, não parece que as comemorações tenham tido o relevo que mereciam, nos dois países.Aos restantes "países ocidentais" e à União Europeia, tal Aliança nada interessa (antes pelo contrário) e, naturalmente, que tal facto passou despercebido. Relativamente aos países que fazem parte da CPLP e da Commonwealth, antigamente abrangidos por esta aliança, passaram a considerar-se "laterais" à mesma.Desta feita o PR português deslocou-se a Londres, nos dias 14 e 15 de Junho, onde foi recebido no Palácio de Buckingam (com guarda de honra de militares portugueses e ingleses) pelo recém-coroado Rei Carlos III (curiosamente aquele que sucedeu no título a Carlos II, que foi casado com a princesa portuguesa Catarina de Bragança, numa época de relançamento da Aliança). Trocaram-se condecorações - havendo algum exagero na atribuição da Ordem da Torre e Espada (a mesma já atribuída a sua mãe, a Rainha Isabel II) a um monarca que nada fez, pelo menos até hoje, de relevante para com o nosso país - e salienta-se o facto de as principais cerimónias terem ocorrido, pela segunda vez seguida, em Londres e não em Lisboa.Ora uma aliança (sobretudo deste tipo) deve ser encarada como um acordo entre iguais e tudo deve ser feito tendo isso em conta; deste modo seria lógico que as cerimónias devem alternar entre um país e outro. Lembra-se que, em 1973, foi o Chefe do Governo Português, Professor Marcello Caetano, que se deslocou a Londres e agora foi o próprio Presidente da República que o fez. E da primeira vez, o Duque de Edimburgo (marido da Rainha), visitou Lisboa durante três dias; desta feita nenhuma personalidade de relevo, inglesa se deslocou ao nosso país.Estes aspectos são de primordial importância, sobretudo com um país como a Grã-Bretanha e o carácter e diplomacia dos seus dirigentes e pelo historial de relacionamento que têm com a nação dos portugueses.Por outras palavras, só há uma maneira de nos relacionarmos com os britânicos, que é de queixo levantado e olhos nos olhos. E ter sempre o trabalho de casa feito.Isto é, à moda de D.João II, do Marquês de Pombal e do Professor Salazar.Não resisto a contar-vos uma pequena história passada numa das visitas do Marechal Montgomery (de Alamein), fez ao nosso país quando exerceu altos cargos na OTAN. Acercando-se de um grupo de militares portugueses que participavam num exercício preparado para tão importante figura, interpelou, no seu modo algo arrogante e paternalista, um soldado bisonho e de pequena estatura, e perguntou-lhe se ele era capaz de matar um soldado russo. Conta-se que o militar mirou o general de alto a baixo e respondeu: "até um inglês...". Acredita-se que a comitiva tenha estugado rapidamente o passo.Convém, para melhor nos situarmos em todo este âmbito fazer um resumo, necessariamente sucinto, dos principais eventos relacionados com este importante instrumento de Amizade, Cooperação e Defesa mútua, dos dois antigos Reinos - e Portugal passou a República depois da maçonaria inglesa ter dado luz verde à execução do "golpe" e ter impedido a realeza inglesa de defender o trono português. Mesmo assim garantiu-se a segurança da Família Real Portuguesa, impedindo que o seu destino antecipasse eventualmente o dos Romanov, já que o Exército e a Armada nacionais, infiltrados pela "Carbonária" não cumpriram os seus juramentos e deixaram cair a Monarquia.O primeiro Tratado de Aliança remonta a 1373, quando o Rei D. Fernando de Portugal e Eduardo III de Inglaterra o assinaram na catedral de Londres, a 16 de junho daquele ano (dia de Corpo de Deus). Este tratado começou a ser preparado um ano antes, com a assinatura do Tratado de Tagilde, em 10 de Julho de 1372.O seu objectivo visava a protecção contra Castela. O pano de fundo era a Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França, sendo que, na altura, a França apoiava Castela.O texto seguinte foi o Tratado de .Aliança de 1386, o qual precedeu o casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre, assinado no Castelo de Windsor, a 9 de Maio. Ficou conhecido como "Tratado de Windsor".O documento consiste em treze artigos, sendo a substância dos mesmos, idêntica ao Tratado de 1373, com redacção diferente e algumas cláusulas novas.Nele se estabelece "uma liga de amizade e confederação real e perpétua e com os aliados deles... de maneira que um seria obrigado a prestar auxílio ao outro contra todos os que tentassem destruir o Estado do outro, excepto contra o soberano Pontífice actual Urbano VI, e seus sucessores e Venceslau Rei dos Romanos e da Boémia e João, Rei de Castela e de Leão, Duque de Lencastre, tio de El-Rei de Inglaterra"."Os súbditos dos dois signatários poderiam ir com toda a segurança aos domínios do outro e demorar-se ali, residir e comerciar... devendo ser recebidos amigavelmente como se fossem naturais...".Nenhum dos reis ou súbditos poderia "dar conselho, socorro ou auxílio nas suas terras à nação que tiver sido inimiga ou rebelde à outra", etc..Nenhum atentado poderia dissolver as alianças.O tratado estabelece direitos e obrigações recíprocas e qualquer dos reis é obrigado a socorrer e prestar assistência ao outro. Sem embargo, esta assistência não é incondicional. Aquele a quem se dirige o pedido podia ponderar os perigos que acarretava o auxílio e as despesas tinham de ser previamente estabelecidas. Porém, nenhum artifício ou sofisma é consentido nem aceitável.Os herdeiros e sucessores dos ditos reis nos tempos futuros, um ano a datar do dia da sua coroação "serão obrigados ajurar e renovar, ratificar e confirmar por cartas patentes... as presentes alianças, é isto solene e publicamente...".Muitas outras e importantes considerações devem ser tidas em conta, mas tal não é compatível com o âmbito e objectivo deste trabalho. (continua na próxima edição)D. João I (ao centro) anfitrião de John of Gaunt (à sua direita)