ABUSO SEXUAL - "Ainda há muito trabalho a fazer do ponto de vista dos pais"
A Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) quer alertar para a prevenção dos crimes de natureza sexual. A vice-presidente considera que há muito trabalho a fazer junto dos pais Em 2022. Portugal registou 1.752 crimes sexuais, dos quais mais de 80% foram cometidos contra crianças e jovens. Este tipo de criminalidade tem vindo a aumentar e esse é um dos motivos que levaram a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) a divulgar recentemente um documento intitulado "Vamos Falar Sobre Abuso Sexual", cujo intuito é sensibilizar a sociedade para a prevenção dos crimes de natureza sexual.Numa conversa com o NOVO. a vice-presidente da Ordem dos Psicólogos salienta que o aumento de denúncias que se verifica decorre do facto de as pessoas "estarem mais atentas aos sinais" e reconhecerem que determinadas práticas "não são aceitáveis" e podem configurar crime. No entanto, Renata Benavente frisa também que "existem muitas situações em que há envolvimento no contexto intrafamiliar, portanto, as práticas ficam circunscritas à dinâmica familiar ou a relações mais próximas".As crianças e os abusos de que são vítimas constituem uma particular preocupação para a Ordem dos Psicólogos e o documento pretende ser uma ferramenta para ajudar pais e famílias, nomeadamente na forma como podem ajudar as crianças a identificar comportamentos abusivos. "Podemos, em idades muito precoces - dois, três anos -, ensinar estas questões de que há partes do corpo que são privadas. que não devemos permitir que as pessoas toquem nestas partes", explica a responsável. "É fundamental prevenir para que estas situações não aconteçam e, no caso de acontecerem, haver uma atenção relativamente a estas vítimas e proporcionar-lhes um apoio de que poderão necessitar, porque são experiências bastante traumáticas e que deixam marcas durante muito tempo."A evolução da internet e o advento das redes sociais trouxeram novos desafios para as autoridades e para os pais. pois a forma de contacto dos agressores mudou e há cada vez mais abusos cometidos através de contactos online. Face a essa evolução, "ainda há muito trabalho a fazer do ponto de vista dos pais", considera Renata Benavente. "Deparamo-nos muitas vezes com o desconhecimento absoluto dos pais sobre o que os filhos fazem quando estão online". refere, acrescentando que "as crianças, aparentemente, estão seguras, estão sob vigilância, mas muita coisa se passa nessas redes".A Ondem dos Psicólogos argumenta que "há muitas linhas de atuação que são fundamentais para que estas vítimas possam recuperar" e insiste que é preciso cooperar com as famílias. mas também com os profissionais que trabalham de perto com as crianças e jovens. A OPP defende também o alargamento de medidas públicas. Há ainda outro ponto que Renata Benavente diz ser importante: o trabalho com os agressores, que lhes permita ter mecanismos "para não reiterarem a prática criminal".fnunes@medianove.comRenata Benavente a l e r t a para o"desconhecimentoabsoluto" dos pais sobre o que os filhos fazem quando estão online