Dom Duarte entrevistado por Rúben Pacheco Correia
4115-itEUR111 1 111 ATREVISTA .011111111 .!* RÚBEN PACHECO CORREIA EM ENTREVISTA INTIMISTA A D. DUA QUE LHE FAZ ALGUMAS CONFIDÊNCIAS... "DESDE QUE SOU CASADO, PRECISO DE FAZER COMO NA TROPA: PEDIR UMA LICENÇA PARA FICAR FORA" Dom Duarte Pio de Bragança recebeu a jovem estrela da Casa Feliz, da SIC, na sua casa, em Sintra. E esta conversa foi uma viagem no tempo, que acabou... à lareira. 10- tOg Ari" - ";\ ""-ell~111111~ .4 aP , F. N. 04 Crescemos a ler, ouvir e imaginar histórias de reis e de rainhas, de príncipes e de princesas, de fadas e mistérios, de amor e magia. Era uma vez... era o início de toda a magia das histórias infantis, que tinham sempre por argumento um príncipe e uma princesa que, depois das mais amargas experiências de amor contrariado, acabavam felizes para sempre num lindo palácio. A magia faz-nos sonhar e os sonhos fazem-nos acreditar que um dia eles poderão ser realidade. Era uma vez um rei que foi exilado e que, terminada a dinastia daqueles que o sucederam, viu o bisneto assumir a defesa da sua história, enquanto família, mas, sobretudo, enquanto povo e nação. A história não tem 500 anos, nem lutas, nem batalhas, nem cavalos armados, nem masmorras ou palácios. A história é de ontem e também é de hoje, e o leitor já faz parte dela. Dom Duarte Pio de Bragança é o descendente que jura proteger os valores daqueles NTREVISTA lb Nesta conversa na sua casa, em Sintra, Dom Duarte de Bragança afirmou à estrela da Coso Feliz, da SIC, Rúben Pacheco Correia, que a monarquia é romântica e que gosta muito de se dedicar à terra que, um dia, sonharam transformar um pequeno condado num país. Entre quadros e memórias, que nos transportam à história de uma nação valente e imortal que veio dar ao Mundo um mundo novo, surge-nos o sorriso rasgado de um homem afável que, se vivêssemos numa monarquia, seria Sua Majestade o Rei de Portugal e dos Portugueses. Franqueou a porta da sua casa, em Sintra, acendeu a lareira, ofereceu-nos um chá da Gorreana dos Açores e uma lição bem-humorada da história de Portugal, da nossa História. A conversa foi gravada e parte dela passou no programa Casa Feliz, da SIC, onde mantenho uma participação regular. Aos leitores da NOVA GENTE, que me acolheram desde sempre, dedico a restante parte desta conversa para que venham sonhar connosco neste país que todos esperamos que volte a ser o verdadeiro país das maravilhas. Dom Duarte Pio. Duarte do pai, Pio do seu padrinho. Qual é a sensação de se ser descendente de reis e afilhado de um Papa? Eu estive duas vezes com o Papa Pio XII. Aliás, considero-o o melhor Papa do séc. XX. Quanto à primeira parte da pergunta, é mais uma sensação de responsabilidade do que, propriamente, de fascínio. O seu nome cabe num cartão de cidadão normal ou, no lugar deste, foi-lhe atribuída uma folha A4? (Risos.) O meu nome de registo é só Duarte Pio de Bragança. O outro é o nome de batismo. E, aí, há a tradição da família de ter o nome dos três arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. Se bem que o nome do meu pai era ainda maior. E os nomes dos seus filhos? Têm simbologia ou pensou neles só para tramar a professora da primária, aquando da marcação de presenças? O Dinis foi uma homenagem ao rei D. Dinis, o meu rei preferido. O Afonso, por ser o nome do padrinho de batismo, o meu cunhado Afon so Herédia, e uma homenagem ao Dom Afonso Henriques. Quanto à Maria Francisca, hesitámos muito no nome, realmente, mas como a minha mãe não tinha outra neta, foi, então, uma homenagem a ela. Os nomes do meio são iguais para todos. Por exemplo, Afonso Miguel Gabriel Rafael Herédia de Bragança. Os outros são iguais. E já que falamos em escola... Quando os seus filhos estudaram a História de Portugal, não ficaram com a ideia de que o manual de História era um misto entre o álbum de fotos de família e a revista cor-de-rosa com os enredos das primas e dos primos? (Risos.) O que eles aprenderam de História foi, de facto, em casa e com amigos. Porque aquilo que se ensina no programa oficial é muito desastroso. A maior parte dos alunos acabam por não perceber nada, decoram aquelas coisas indispensáveis. O programa de ensino oficial está feito não para os jovens aprenderem a raciocinar, mas, apenas, a decorar. E os alunos, por vezes, basta-lhes ler os resumos e, pronto, têm boas notas. O ensino oficial em Portugal é quase uma máquina de encher chouriços. "Os reis veem a política a longo prazo. Estão preocupados com os seus netos e bisnetos" ... TR FILHOS Dinis, Afonso e Maria Francisca são abordados nesta entrevista intimista, onde se falou também de História e ensino "A Isabel trata dos assuntos do quotidiano - onde estudam os nossos filhos ou onde vamos de férias - e eu trato do mais importante" O que estudaram os seus filhos? O Afonso estudou Ciências Políticas e Relações Internacionais. A Maria Francisca, Comunicação; e o mais novo, o Dinis, entrou numa Universidade na Bélgica e está, neste momento, a estudar um conjunto de áreas, entre a Filosofia e a História. Fala diariamente com ele? Usa as plataformas digitais? Sim, claro, sobretudo o Zoom. Estamos aqui na sua casa, em Sintra. Defendeu, muitas vezes, uma monarquia moderna para Portugal. E aqui, em sua casa, tem uma família moderna? O D. Duarte divide as tarefas de casa com a sua esposa? Sim, e as decisões que são tomadas e que envolvem os nossos filhos são todas discutidas entre nós. Gosto de perceber os pontos de vista diferentes, desde que fundamentados. A Isabel trata da gestão dos assuntos do quotidi ano - por exemplo, onde estudam os nossos filhos, onde vamos de férias -, e eu trato do mais importante, das questões políticas, dos problemas da humanidade. E cozinhar? Cozinha? Sim, cozinhava um pouco, mas agora não preciso. Viajando um pouco pela gastronomia portuguesa, qual é o seu prato preferido? Bom, há pratos magníficos. Gosto muito da alcatra da ilha Terceira e da sopa de cação no Alentejo, entre tantos outros. Há um problema na doçaria conventual portuguesa, que, no meu entender, leva muito açúcar. E em casa, quais são os seus hábitos alimentares? Como pouca carne, mais para acompanhar a família. Prefiro tudo o que tenha a ver com cereais, legumes, produtos laticínios... gosto muito! Normalmente, faço, ao pequeno-almoço, batidos de legumes ou de frutas. Tem árvores de frutas aqui na sua quinta? Temos muita fruta e muitos legumes. Gosto muito de me dedicar à terra. De resto, quando estivemos em confinamento, aproveitei para me dedicar mais à horta. Plantei mais limoeiros, até porque a vitamina C ajuda a combater os vírus todos. Estudou agronomia. O facto de se ter dedicado a esta área de estudo está relacionado com a visão que tem para o País? Sim, via sempre na agronomia o aspeto humano. Sempre entendi que os agricultores são aqueles que sustentam a Nação. Podemos passar por tudo, mas sem comida, ninguém aguenta. Se tivermos um clima de guerra ou outro, temos que ter a nossa própria subsistência. Quando estudei agronomia, ninguém acreditava na agricultura biológica. E, hoje em dia, toda a gente fala nela. Para si, o que diferencia um rei de um Presidente da República? Os Presidentes... a sua grande preocupação é serem reeleitos. O que mostra, realmente, que a um e om Duarte e Braganca 1111 ara a 4 5 Quando era bebé I I opai h it oXII Numa cerimónia com um unir -,41141 li 40, NTREVISTA "O ensino oficial em Portugal é quase uma máquina de encher chouriços", diz Duarte Pio de Bragança República, do ponto de vista político, não faz muito sentido e é um pouco contraditória. Os reis veem a política a longo prazo. Estão preocupados com os seus netos e bisnetos, e os Presidentes estão preocupados consigo próprios. Se a Primeira República tivesse sido boa para o país, não teríamos de ter a Segunda e a Terceira. Quando se casou, muitas pessoas vieram de todo o País assistir ao seu casamento. Ainda hoje sente este apoio popular? A maior parte das pessoas é sempre muito amável e diz que está contente de me encontrar. Sinto o carinho das pessoas. Nas viagens de comboio de longo curso, surgem umas conversas muito interessantes. Outras coisas muito interessantes que me têm acontecido é o maquinista da CP convidar-me para ir com ele, de modo que já sei conduzir um comboio. E um avião. Porque o senhor foi piloto. Sim, sou piloto. Portanto, já sabe conduzir um comboio e um avião. Sim, mas o comboio é mais assustador do que um avião. O que se vê nas linhas sem proteção é assustador. Nas linhas encontra-se de tudo - animais, objetos... -, e não é possível parar um comboio. O mínimo que podiam fazer era uma vedação ao longo das linhas. O senhor está a preparar o seu filho mais velho para a eventualidade de vir a ser rei de Portugal. Quais são os valores que herdou do seu pai e que valores pretende transmitir ao seu filho? Passei a todos os meus filhos esses valores. Todos eles estão muito conscientes desta responsabilidade para o País. A ideia é que estejam todos preparados para este sentido de dever para com o País. De um lado, têm que fazer a vida deles e ganhar a vida deles, para terem a sua vida normal. Mas, por outro lado, têm de ter a consciência de que têm uma obrigação a mais do que as outras pessoas. Aliás, todos os portugueses deviam ter esta educação. Todos os portugueses deviam estar preparados para servir o País em tudo. Por exemplo: dar sempre preferência aos produtos portugueses. Sente que as novas gerações não têm este sentido de responsabilidade? Pois. É uma pena não haver serviço militar. Era a melhor escola que havia em Portugal. Não há, neste momento, um serviço cívico em Portugal. Hoje em dia, os jovens passam diretamente das saias das mães, por assim dizer, para o mundo de trabalho, sem ter antes uma formação cívica. Acha que os portugueses preferiam uma monarquia? Bem, os portugueses que vivem em monarquias - que eu saiba - gostam dos seus regimes locais, em Inglaterra, na Bélgica, no Luxemburgo, etc. A monarquia é romântica? Acha que um conto infantil começado por "Era uma vez um rei..." tem o mesmo impacto se for: "Era uma vez um Presidente da República..."? Sim, obviamente que "era uma vez a filha de um Presidente da República" não tem piada nenhuma. A monarquia é romântica, mas, além disso, tem uma ligação diferente com o povo. Cria-se uma relação familiar. As pessoas sentem os problemas da família real como se fossem a sua própria família. O caso da princesa Diana, por exemplo. Para quando um regresso à minha terra, aos Açores? Desde que estou casado, preciso de fazer como na tropa: pedir uma licença para ficar fora (risos). Para terminarmos, como olha o Dom Duarte para a atual situação que atravessamos? Está preocupado com a COVID-19, ou isso de se ter sangue azul é estar imune a pandemias? Não sei se é tanto por isso, mas mais por ser uma "corona vírus" (risos). Mas o que me angustia realmente são as famílias que ficaram sem rendimentos. Texto: RUBEN PACHECO CORREIA (novagente@gmail.com); Fotos: NUNO MOREIRA e Gentilmente cedidas por D. Duarte Pio de Bragança PILOTO E MARIDO Dom Duarte fala do seu casamento e, como piloto, revela que é mais assustador conduzir um comboio do que um avião do Com a mul e os três fillios o casa . f Dinis, Maria Fran e 4, v " No dia do seu O casal casamento numa com Isabel fotografia de Herédia oficial